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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Há exatamente um ano, era aberto na Câmara dos Deputados o
processo de impeachment contra a agora ex-presidente Dilma Rousseff (PT),
consolidado menos de cinco meses depois pelo Senado. O placar final foi
de 367 votos favoráveis a 137 contrários, mas o decisivo foi o do
pernambucano Bruno Araújo, do PSDB, que foi o 342º parlamentar a votar,
número que representa os dois terços necessários para que o caso fosse
iniciado. Hoje ministro das Cidades, o tucano é também um dos nomes do primeiro escalão do
governo Michel Temer (PMDB) que estão entre os que tiveram investigação
autorizada por Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no
Supremo Tribunal Federal (STF), após a delação de 77 executivos e ex-executivos
da Odebrecht.
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Fotos: Nilson Bastian/Câmara dos Deputados |
Os
delatores afirmaram que foram repassados R$ 300 mil para Bruno Araújo em 2010 e
2012. Os valores teriam sido viabilizados através do Setor de Operações
Estruturadas da construtora, responsável por pagar propinas, e o tucano teria
aparecido nas planilhas da área com o codinome “Jujuba”.
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Documento mostra supostas doações para Bruno Araújo pelo setor de propinas |
As
supostas doações irregulares para o ministro estão no depoimento de João
Pacífico, ex-diretor da empreiteira no Nordeste e pernambucano como ele.
“Isso era em função da relação e de uma aposta que nos fazíamos de que ele viria
a ser um político de destaque. Tanto é que foi, ele hoje é ministro de Estado”,
disse.
pedido para abrir o inquérito contra o tucano, o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma que é necessário ainda
investigar uma planilha das eleições de 2014, quando Araújo foi eleito pela
terceira vez deputado federal. A informação está na delação de Luiz
Eduardo da Rocha Soares, ex-executivo do setor de propinas.
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Segundo o documento de Janot, “Corinthians” se refere ao PSDB e “Volante” ao cargo de deputado federal |
Outro
depoimento que levou ao inquérito de número 4391 na Corte foi de Cláudio
Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira. O
ex-executivo contou aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF) que
tratou com o tucano sobre as renovações dos contratos de energia no
Nordeste.
Os dois
teriam sido apresentados por João Pacífico. Filho contou que esteve com o
tucano em uma viagem à Ucrânia, quando o parlamentar era presidente da Comissão
de Ciência e Tecnologia e foi conhecer um projeto em que a Odebrecht estava
envolvida. “Da parte dele não houve nenhuma solicitação de nada em termos de
campanha porque ele tinha a relação dele com João Pacífico”, afirmou Filho.
Em
entrevista no programa Resenha Política,
o ministro já havia reconhecido que mantinha com ele uma relação de amizade.
Além disso, frisou em nota: “Cláudio Melo Filho foi claro ao afirmar que a
minha relação com a empresa era puramente institucional, sem qualquer
contrapartida, descaracterizando qualquer tipo de ilação a corrupção. Da mesma
forma, João Antônio Pacífico Ferreira informa que desconhece qualquer atuação
parlamentar minha a favor da empresa em questão.”
Veja um
trecho do depoimento:
O ex-executivo ainda afirmou que Bruno Araújo foi a
ponte para o deputado federal Duarte Nogueira (PSDB-SP), acusado por ele
de cometer irregularidades.
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Deverão ser levantados os cargos ocupados por Bruno Araújo
e as emendas parlamentares propostas por ele, além das obras da Odebrecht em
Pernambuco. Além disso, Duarte Nogueira deverá ser ouvido. “As condutas acima
narradas não configuram, em tese, mera doação eleitoral irregular.
Vislumbra-se, na verdade, uma solicitação indevida em razão da função pública
que se almeja ou que ocupa, a pretexto de campanha eleitoral, sem qualquer
comprovação de que os valores foram efetivamente utilizados na campanha
eleitoral. Por esta razão, há fortes indícios de que se está diante de crimes
graves que precisam ser minuciosamente investigados”, disse Janot no pedido a
Fachin.
Defesa
Na semana
passada, quando a lista de inquéritos autorizados e os vídeos dos depoimentos
dos delatores foram divulgados, Bruno Araújo afirmou que “os áudios e os vídeos
dos delatores mostram uma dissociação em relação ao que me foi imputado e os
fatos relatados”. “Com absoluta clareza, fui citado apenas em atividades
inerentes à atuação parlamentar, como a marcação de uma audiência ou em
‘conversas’ sobre temas que beneficiavam a minha região, Nordeste do Brasil”,
afirmou ainda. “Por último, o sentimento é ainda de surpresa com as imputações
que me foram feitas. Mas, diante do que está exposto, tenho convicção de que
tudo ficará devidamente esclarecido.”
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Em tom de
ironia, o deputado federal Sílvio Costa (PTdoB-PE) lamentou as agruras vividas
pelo colega da Câmara dos Deputados. “Eu queria pegar ele como adversário na
disputa pelo Senado. Para mim ia ser ótimo. Tinha toda uma simbologia. Eu o
senador de Lula e Dilma em Pernambuco, e ele o voto 342 pelo impeachment”,
afirmou, em conversa com o editor do Blog, na semana passada, quando os vídeos
foram divulgados.
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